terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O Penis e a Tartaruga

Hora do banheiro é tempo de esquecer a barafunda do mundo exterior e deixar a cabeça voar em “devaneios loucos” como diria o feioso Zé Ramalho da Paraíba. Quem tem filho sabe o que estou falando. A gente chega em casa e é:
- Paiiiêêê – berra a filha
- Paiiiêêê – ruge um filho
- Paiiiêêê – se esgoela outro filho
Nessa hora invejo quem tem menos filho do que eu. Mas no meu remanso do trono sanitário, lendo aquela revista Veja velha estrategicamente decorando a bancada da pia - estrategicamente porque na hora em que o Jarbas não está em casa e não adianta a gente gritar “Neve”, aí a amiga Veja pode ser perfeitamente depenada como um frango abatido, e ter um uso diverso do que imaginou Victor Civita ao fundar a mais anti-lulista das revistas – então, folheando a revista, leio sobre uma insana americana, clone da Angelina Jolie, que teve óctuplos, e antes deles tinha outros seis em casa. Amigos, são 14 filhos. Imagina só essa alcatéia de pimpolhos gritando Paiiiêêê. Enlouquecedor. Nessa hora aceitei de bom grado a minha sina de pai de trigêmeos.

Voltando ao banheiro, ou melhor, sem sair de lá, fiz daquele santo recinto o meu lugar de refúgio, meu abrigo nuclear, meu bunker. Porta trancada, ali faço a minha terapia diária, esqueço o mundo e me permito teorizar sobre o sentido da vida e outras bobagens. Ali entro, nem sempre para fazer as necessidades básicas, mas principalmente para economizar psiquiatra.

Dia desses, estava lá, peladão, temperando a água do chuveiro (ganhar o premio Nobel é mais fácil), e não sei porque, dei de cara com o meu pênis. Foi esquisito, pois dessa vez eu não vi o pênis como aquele velho companheiro de jornadas paradisíacas ou bizarras, freqüentador de lugares encantadores e também insalubres. Vi desta vez, aquele pedaço de carne, como se fosse eu um ET sendo apresentado a um ornitorrinco. Nesta hora eu entendi o Eduardo, meu filho, quando um dia me vendo trocar de roupa olhou para o meu pênis e disse:
- Nossa, parece um papagaio!
Não que ele pareça um papagaio. No mundo peniano seria considerado um belo representante da espécie, quase sempre rijo e asseado. Mas para o Eduardo, na ausência de hormônios que empalidecem o senso estético, aquilo devia mesmo parecer uma ave psitacídea. O que me espantou, é que noves fora a evolução da espécie humana que tornou aquele apêndice atrativo ao sexo oposto, temos que adimitir, aquilo é feio pacas.

Foi aí que fiquei encantado com a perfeição da natureza. Como é que aquela tripa quase sempre muxibenta, não só a minha mas a de todos os outros machos do planeta, pode ser atrativa para o belo e sensível sexo feminino? Como é que elas, tão lindinhas e cheirosas, podem gostar de por aquilo na boca, serem penetradas por aquela minhoca rígida? Foi aí que eu me dei conta que mais feio que o pênis, só mesmo a vagina. Não é à toa que também é chamada de "perereca". Esteticamente falando, a “perereca” é tão horrível quanto a sua homonima prima , a rã. Ou alguém aí acha o marisco o suprassumo da obra divina? A vagina, somente ela e não o entorno, não passa de um mega marisco. Até no cheiro eles se equivalem.

Antes que as meninas que lêem essa divagação psicodélica reclamem, e me chamem de nojento, aqui não venho para distratá-las, até mesmo porque sou apreciador daquele “marisco”. Sou produto de milênios de evolução. Daria um belo material de estudos para o centenário Darwin. Venero aquela parte da anatomia feminina. Gosto de ver, cheirar, introduzir, beijar. Será que existe algo mais emocionante e prazeroso que o contato da sua língua com a vagina da mulher que você deseja, ou da amiga que permite que você a conheça melhor, e não veja aquilo somente como uma tara vagabunda? Atenção, isso aqui não é um conto erótico, mas apenas a compreensão de como é poderoso o instinto impregnado em nosso DNA. Como é que dois órgãos tão horrendos podem ser tão atrativos ao sexo oposto?

Foi aí que me vi matutando sobre a tartaruga. Deus foi especialmente infeliz quando criou a tartaruga. Será que habita no planeta terra algum ser mais pavoroso do que a tartaruga? Talvez a galinha. Se ela fosse uma fruta, seria um mamão ou uma jaca. A tartaruga é um quelônio, e é prima dos cágados e jabutis. Entenderam? Até a escolha dos nomes é bizarra. Entretanto lá está ela, a tartaruga, mais feia que mudança de pobre, se reproduzindo aos milhares. Como é meu Deus que uma tartaruga pode ter tesão por outra tartaruga? Você já foi no jardim zoológico e viu aquela pilha de tartarugas transando. Além de horríveis, elas são promíscuas e adoram uma suruba. E a vagina da tartaruga? Acho melhor deixar de lados os detalhes escatológicos.

Entenderam agora onde eu queria chegar? Imagine que o seu pinto ou sua perereca fosse uma tartaruga. Seria o final da espécie humana. Não dá pra abstrair, não dá pra imaginar, a natureza é implacável. Será que a tartaruga pensa o mesmo? Acho que devo voltar ao zoológico e mostrar o pinto para alguma tartaruga. Será que corro o risco de alguma delas vomitar?
- Paiiiêêê, sai do banheiro – esmurram a porta meus trigêmeos
Paro de olhar para o meu pinto. Enfio ele dentro da cueca e saio dali. Ainda bem que não nasci tartaruga.